O poder da Storytelling nas Escolas
Storytelling significa contar histórias utilizando técnicas e estímulos adequados para ativar áreas cerebrais. É indicada para todas as idades e séries. Eficiente para criar conexão, ilustrar contextos, promover a inclusão e atrair atenção dos estudantes. Além de ser uma excelente oportunidade para que o aluno “faça parte da história”, ou seja, despertar o seu sentimento de pertencimento e inclusão social.
Diversas áreas cerebrais são ativadas no ouvinte durante a storytelling como, o córtex visual, quando vemos imagens; o córtex auditivo, quando ouvimos os sons produzidos na contação da história; o córtex sensorial; as áreas da linguagem propriamente ditas (Broca e Wernicke); o sistema límbico, responsável por nossas emoções e o córtex pré-frontal, que envolve pensamento criativo e reflexões.
Dicas de Técnicas no Storytelling
- Contextualize a história.
- Desperte a curiosidade.
- Escolha um ambiente adequado.
- Traga objetos.
- Utilize o emocional/vínculo afetivo.
- Explore as imagens.
- Utilize música.
- Encene a história enquanto a conta.
- Discuta a moral da história.
- Peça para os alunos criarem um novo final para a história.
Destacam-se o uso de figuras, para ajudar o aluno no processo de formação de imagens mentais; o uso de objetos em geral para que os estudantes possam tocar e interagir, ajudando a construir a narrativa; o uso de fantoches, que praticamente ganham vida e tornam-se os personagens da história, estabelecendo um vínculo afetivo com os ouvintes; o uso de músicas, que adicionam dinamismo ao enredo da história e muitas vezes ajudam na criação de um clima de suspense; linguagem corporal, gestos e mímica auxiliam os estudantes a terem a chance de vivenciar a história e, por fim, temos os desenhos, que podem ser construídos enquanto a história está sendo contada.
Com as técnicas descritas acima, o professor oferecerá aos alunos diferentes oportunidades de acionar gatilhos cerebrais e formar inúmeras conexões neurais, que são a base da aprendizagem.
A longo prazo, visto que a contação de histórias nos permite acionar diferentes áreas do cérebro, criar múltiplas conexões neuronais, ou seja, entre os neurônios que são as células nervosas responsáveis por transmitir as mensagens pelo cérebro e por todo o sistema nervoso, indicando ações e reações no organismo. Com isso, o aluno passa a ter um maior nível de criatividade, um melhor nível linguístico, um desenvolvimento mais intenso de pensamento crítico e das funções do córtex pré-frontal, como planejamento, organização de pensamento (sequenciação) e concentração. Além de uma maior velocidade de transmissão de informações para a memória de longo prazo.
Ao contar histórias, é preciso conhecer as características do público para direcionar a linha de interesse e a linguagem, além de entender as fases do desenvolvimento da estudante.
Outro fator é a existência de alguma referência cultural nesse grupo, como imigrantes, escoteiros e religioso.
É importante também levar em conta o ambiente físico ou social no qual se vai narrar: parque, salão de festa, biblioteca. Se o local for aberto, escolher um ambiente calmo, colocar tapetes e acessórios para esse momento mágico. Para crianças menores, é essencial trabalhar o lúdico: fantoches, bichinhos, instrumentos, músicas e histórias que explorem os recursos sonoros.
Storytellings são momentos que facilitam a memorização, estímulos para a linguagem e o vínculo afetivo. Para crianças maiores, há um repertório mais detalhado com temas variados como aventura, natureza, contos de fadas, contos de humor e fábulas. Gradualmente, elas aumentam o tempo de concentração e entendimento. Saber quais histórias são mais adequadas para cada faixa etária garante conseguirmos a atenção de grande parte do nosso público.
Considerando que existe um começo, um meio e um fim, é necessário que o contador se sinta seguro, inclusive para introduzir sons ou elementos surpresa (alteração de voz grave ou aguda, gestos com o próprio corpo). Antes de iniciar a história, é interessante cantar uma música de entrada ou tocar um instrumento que vai iniciar a apresentação. Chamar a história é um momento mágico. Durante a narrativa, deve-se manter a concentração e mergulhar nos personagens e nas histórias. Em alguns momentos, é interessante interagir com o público para que participem do enredo. Cuidado para não ultrapassar o tempo de concentração das crianças. Ao terminar a história, é ideal sinalizar o fim. Pode-se realizar o uso de algumas cantigas, brincadeiras, bordões (“vitória, vitória e vitória, acabou-se nossa história”) ou mesmo uma música de fechamento.
Quando o professor perceber que seu público está um pouco distante ou que está sendo interrompido pelos alunos, ele pode lançar mão de recursos como palavras-chave e/ou som de instrumentos para momentos de virada. Ao invés de simplesmente se incomodar com as interrupções ou ignorar as perguntas dos estudantes.
O momento da contação de histórias é também um momento de aprendizado mútuo e gratidão, pois podemos observar a reação dos alunos: o olhar, o sorriso, o amor, o carinho sincero e o envolvimento.
Como em qualquer função que nos propomos a desempenhar, é fundamental que haja estudos, aprimoramento, pesquisa e muito empenho. Além disso, a criatividade deve ser uma constante. Cada professor ou contador possui a sua própria maneira de contar histórias, não existe um jeito certo ou um ideal, engessado.
Sem sombra de dúvidas nesses meus vinte e dois anos de profissão, utilizar o storytelling na educação tem sido relevante para atrair a atenção dos alunos, instigá-los a aplicarem os conteúdos aprendidos de maneira significativa, contextualizada e com envolvimento sócioemocional.
Referências:
– COELHO, Thais Faria. Cinquenta Toques de Neurociência. São Paulo: All Print Editora, 2022.
– HEATHFIELD, David. Storytelling with our students – techniques for telling tales from around the world. Surrey: Delta Publishing, 2014.
Carolina Marques
Bióloga, Pedagoga, Neurocientista, Neuropsicopedagoga Clínica e Institucional. Estimulação Cognitiva; Transtornos Neurodesenvolvimento; Dificuldade de Aprendizagem. Especialista no atendimento de crianças, adolescentes e adultos com dificuldades e transtornos de aprendizagem; estimulação/reabilitação cognitiva; neurociência educacional e comportamental.
Instagram: @carolmsdemattos Contato: +55 11 99676-2770