ALIMENTAÇÃO INADEQUADA COMPROMETE COGNIÇÃO
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), considerando o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), revelou que o consumo de ultra processados contribui para o declínio do desempenho cognitivo. Os resultados mostraram que a queda cognitiva, ao longo da vida, foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias em ultra processados. O levantamento deixa claro que o hábito de ser saudável é algo aprendido ao longo da vida.
O processo dessa aprendizagem para uma alimentação adequada começa com os primeiros anos de vida da criança e segue até à adolescência. Se uma família mantém hábitos alimentares adequados, desde o início, a criança aprende como deve se alimentar. Por outro lado, se a alimentação é desregrada, a criança também aprenderá a comer dessa forma.
A má alimentação e o consumo de alimentos ultra processados comprometem o desempenho cognitivo de crianças ou adolescentes e ainda causam obesidade. Os pesquisadores da USP calcularam o quanto o consumo de alimentos ultra processados contribui para a ocorrência dessa doença. Os mais de três mil adolescentes, de 12 a 19 anos, participantes do inquérito nacional de saúde e nutrição nos Estados Unidos, por exemplo, permitiram constatar um risco de obesidade 45% maior entre adolescentes que comem muitos alimentos ultra processados
A análise compara os que mais comiam ultra processados com aqueles que comiam menos, identificando que o primeiro grupo tinha 45% mais chance de obesidade, 52% mais chance de obesidade abdominal (gordura localizada na barriga) e o mais preocupante, 63% mais chance de obesidade visceral (acúmulo de gordura, entre os órgãos), altamente relacionada ao desenvolvimento de várias doenças, como a hipertensão, diabetes tipo 2, dislipidemia, doença arterial coronariana e o aumento do risco de mortalidade.
O que falta é uma boa educação alimentar, aprendizagem e a conscientização por parte dos pais e da família das crianças e dos jovens. As pessoas estão cada vez mais imediatistas, devido aos avanços tecnológicos e as possibilidades proporcionadas. As pessoas optam pelo prazer momentâneo e imediato, escolhendo petiscos, hambúrgueres, frituras e outras comidas rápidas, comportamento aprendido. Essa busca por comida rápida não é realidade somente no Brasil. A modalidade imediatista surgiu e ficou mundialmente conhecida com os chamados fast foods nos Estados Unidos.
Inversamente a esse hábito alimentar de comidas rápidas e gordurosas, ainda existe a geração fitness, um grupo de indivíduos focado nos cuidados com o corpo.
Porém, esse também pode ser um mal hábito, uma vez que, em algumas situações, as pessoas tomam suplementos e praticam exercícios de forma excessiva para que o outro veja e, não, para se manter saudável.
De um lado está a aprovação alheia e, do outro, a ansiedade que leva a comer em excesso. Ser saudável é uma conscientização e muitas pessoas, mesmo adoecidas e com dificuldades, não abrem mão de seus hábitos. É essencial mudar e melhorar os hábitos alimentares para si mesmo e não em busca de aprovação alheia.
Créditos: Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, psicanalista e psicopedagoga
Instagram: @draangelamathylde