PAIS PROTETORES E DEPRESSÃO INFANTIL
*** Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, psicopedagoga e professora
A depressão infantil cresce no Brasil, gradativamente e, no período da pandemia, esse
quadro se agravou ainda mais. Os sintomas, como irritabilidade, humor depressivo, perda de
interesse pelas coisas que gostava de fazer, falta ou excesso de apetite e sentimento de culpa,
se tornaram muito presentes na rotina infantil, pois as crianças se viram diante de uma
situação nova, com a qual não sabiam como agir.
Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, os casos de
depressão entre crianças de 6 a 12 anos, aumentaram de 4,5% para 8%, em uma década. A
estimativa é de 1% a 2% de ocorrências, entre crianças,ainda na idade pré-escolar. A situação
preocupa os profissionais da saúde mental e está longe de ser resolvida.
As pessoas acreditam que a depressão infantil tem as mesmas características e
sintomas da depressão nos adultos, porém existem algumas diferenças importantes, quando
comparadas, devido à dificuldade que as crianças possuem de verbalizar o que sentem.
A depressão chega com agressividade, irritabilidade, perda de sono e apetite,
dificuldades de concentração, perda de interesse pelas coisas e, por isso, crianças depressivas
também tendem a apresentar declínio em relação ao rendimento escolar e dificuldades no
processo de aprendizagem.
A situação compromete o aprendizado, pois quando se está deprimido, a pessoa fica
ansiosa e esse fator contribui para a perda de foco , dificuldade de concentração e problemas
de memória. Além disso, em comorbidade à doença, a criança ainda pode ter síndrome do
pânico, levando-a a ficar irritada, frequentemente, com mais facilidade, apresentar problemas
para dormir e dificuldades de se relacionar socialmente com os outros.
Para garantir um bom rendimento escolar, é necessário manter o equilíbrio com as
demais questões da vida. É imprescindível dormir bem, se alimentar adequadamente, manter
o foco/motivação e possuir uma relação saudável com os familiares e as demais pessoas do
cotidiano. Além da pandemia, alguns comportamentos, por parte dos pais, também favorecem
para esses casos ocorrerem com mais frequência.
Atualmente, observa-se uma geração com baixa tolerância às frustrações, devido ao
fato de que sempre tiveram tudo nas mãos e nunca precisaram lidar sozinhas com as
frustrações e resolverem seus próprios problemas. Muitos pais solucionam tudo para os seus
filhos na intenção de ajudar, porém, esse ato, em excesso, faz com que os pequenos não
amadureçam. Eles colocam a culpa sempre nos outros pelas situações ocorridas, culpam a
escola que dá muito dever por exemplo, sendo que foram eles mesmos que escolheram aquela
instituição para os filhos.
É necessário estabelecer uma parceria entre a escola e a família para a criança se
sentir confortável, contudo, os pais precisam entender que a frustração é necessária e que,
quanto mais cedo aprendem a lidar com ela e com o dia a dia, melhor será.
Ninguém vive dias só de alegria, pois existem situações de tristeza, alegria, altos e
baixos, sendo necessário saber administrá-las. Se os pais resolvem tudo na vida da criança,
quando ela terá autonomia e maturidade para viver e conduzir a própria vida?
É essencial os pais aprenderem a compreender que, entrar na frente como escudo dos
filhos significa infantilidade e imaturidade, causando muita tristeza, posteriormente, uma vez
que, como os filhos não sabem fazer e nem resolver nada, também não saberão como lidar
com as situações complexas e desafiadoras da vida.
Créditos: Ângela Mathylde Soares
Instagram: @draangelamathylde