DESMANDOS E DECLÍNIO DA INTELIGÊNCIA COLETIVA BRASILEIRA
*** Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, psicanalista e psicopedagoga
O sociólogo italiano Domenico de Masi, em uma entrevista ao Vila de Utopia, analisou a atual situação brasileira, comparando o governo Bolsonaro com o de ditadores, como Hitler, Mussolini e Erdogan. Em sua análise, o autor de Ócio Criativo concluiu que o comportamento do atual presidente causou um regresso geral no nível cognitivo da população. Ele afirmou que o país está nas mãos de um ditador, que, durante a pandemia, se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ele conseguiu impor um comportamento idiota em uma nação muito inteligente, porque é isso que as ditaduras fazem.
Infelizmente, o povo tende a imitar certos comportamentos de líderes, pois estão envolvidos emocionalmente e enxergam neles, uma espécie de guia com suas falas e ações. Por exemplo, nos templos religiosos, os fiéis tendem a seguir o padre – pastor – guia espiritual e, na política, a verdade é que não é diferente. As pessoas perdem a opinião própria e passam a seguir somente aquilo que os líderes acreditam e as orientam para seguir.
O presidente de uma nação é considerado um líder e detém grande influência sobre a sociedade, em decorrência do cargo. Se ele disser que, quando as pessoas se vacinarem contra o vírus da covid-19, podem correr o risco de virarem “jacaré”, mesmo que, metaforicamente, estará influenciando a não se vacinarem.
As falas e comportamentos, como esse, influenciaram os índices de vacinação contra o coronavírus e também a imunização em relação a outras doenças. Um levantamento do Instituto Butantan, em relação à poliomielite, apontou que a taxa de vacinação caiu de 96,5%, em 2012, para 67,6%, no último ano.
Em relação à cobertura geral vacinal, conforme dados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), considerando as vacinas disponibilizadas dentro do Calendário Nacional de Imunização do sistema Único de Saúde (SUS) e, segundo o Datasus, o índice de imunização, em 2011, chegava a 85,31%. Posteriormente, esses índices baixaram, gradativamente, sendo 73%, em 2019, 67%, em 2020, alcançando a taxa de 59,5%, no ano passado.
De Masi também alertou sobre os temas, que, mesmo já comprovados cientificamente, voltaram a ser debatidos, nos últimos anos, reforçando a ideia de regresso da inteligência coletiva brasileira. Ele disse que a população é obrigada a retomar debates passados, como se fossem novidades. Ou seja, terra planismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado já considerado longínquo.
A questão é que ao entrar nesse tipo de debate, é como estar finalizando o ensino médio e retornar ao fundamental. Afinal, volta-se a questionar e a relembrar consensos estabelecidos, aprendidos e estudados há décadas, como se nada tivesse sido aprendido e todos os anos já estudados fossem anulados.
A retomada sobre temas já estabelecidos, consome um tempo que poderia ser usado para discutir novos assuntos polêmicos ou em ebulição. A discussão sobre temas já comprovados apresenta um regresso da inteligência coletiva brasileira e também se torna um obstáculo para a evolução e o desenvolvimento brasileiro.
Créditos: Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, psicanalista e psicopedagoga
Instagram: @draangelamathylde